Bárbara Guimarães: "Sou uma mulher de força. Energia não me falta"


É uma mulher obstinada e que defende as suas ideias até ao fim. Prestes a apresentar 'Toca a Mexer' da SIC, Bárbara Guimarães diz que este programa não vai concorrer com 'Casa dos Segredos', da TVI, mas admite comparações. Fala ainda da carreira, da infância e da família.Toca a Mexer estreia-se este domingo na SIC.


O programa quer rivalizar com Casa dos Segredos da TVI ou esta é uma guerra perdida?
O nosso programa é leve, é divertido, é luminoso. Este lado solar que o Toca a Mexer pode dar às famílias aos serões de domingo é bom. O programa vai fazer um caminho saudável.

Mas pretendem ou não concorrer com a TVI?
Não é comparável. O nosso programa é para dar diversidade. O espectador está com a família, sentado em frente a um televisor, e tem de fazer uma escolha: se estes concorrentes interessarem, se fizerem rir, é uma boa escolha. Depois, pode ser visto por crianças e penso que a Casa dos Segredos não deve ser visto pelos mais pequenos. Tem esse pequeno grande pormenor.

Mesmo assim, as comparações entre a Bárbara e a Teresa Guilherme serão inevitáveis. Tendo em conta que os formatos são tão diferentes, não as acha injustas?
É natural que isso aconteça. Estamos a falar de dois canais privados e cada um quer ganhar em audiência as noites de domingo. Eu gostaria mesmo muito que o Toca a Mexer fizesse parte dos espectadores.

Ganhar à Casa dos Segredos é um cenário impossível?
Não sei. Em televisão nunca arrisco dizer que vai tudo correr lindamente nem dizer que não vai dar em nada. Isto é uma escolha feita pela minha estação, que está a dizer ao espectador "olhe para aqui. Isto é completamente diferente do outro lado. Gosta? Agrada-lhe? Diverte-o?" Para concorrer com a Casa dos Segredos, a SIC teria de fazer um reality show, combater com as mesmas armas - e isto não é política da SIC, como já se viu.Porquê?A SIC faz 20 anos e está num período de namoro com o espectador, a criar este "estamos juntos", a dar coisas bonitas. Claro que as comparações são naturais. São duas propostas para o mesmo horário, sendo que a da TVI tem feito um percurso de sucesso. A estreia da Casa dos Segredos foi um sucesso, mas nós queremos meter as pessoas a sorrir mais, a deixá-las mais alegres num momento tão difícil como este em que vivemos. Queremos ser uma alternativa a um projeto vencedor.

Viu a estreia da concorrência no domingo passado?
Vi um pouco. Não é um formato que... me puxe. Gosto sempre de ir vendo, para apenas para saber como é que o programa se desenvolve.

Também... é mais do mesmo, não é? (risos). É vira o disco e toca o mesmo.

Apresentava a Casa dos Segredos?
Não é um formato que me atraia. É um sítio intocável para mim no sentido em que está muito bem entregue à Teresa, que faz aquilo brilhantemente.

A Teresa Guilherme disse em entrevista à NTV que Toca a Mexer é um "nome muito mixuruco". Quer aproveitar para dizer o que pensa de Casa dos Segredos?(silêncio)
Os nomes que se atribuem são só nomes que identificam um programa (risos)

.Já conheceu os concorrentes de Toca a Mexer?
Sim. O concorrente com maior peso tem 140 quilos e o com menor tem 80 e tal. Vão ter muito trabalho para chegar a um peso mais saudável. É curioso porque eu estava na expectativa de ver quem ia ter pela frente, quem iam ser os dançarinos deste programa. Aconteceu um fenómeno de nos castings aparecerem mais do que estávamos à espera e por isso a seleção dos concorrentes foi mais difícil e até demorou mais tempo que o previsto. Foi isto que levou ao impasse das últimas semanas, a escolha dos concorrentes. Vamos ter homens e mulheres muito bonitos e muito altos... Está bem que quando os conheci ia de sapatos rasos, mas estou habituada ao contrário, que seja eu a mais alta (risos).

Que Bárbara vamos ter neste programa?
Uma Bárbara completamente solta, surpreendente. Repare, eu no Ídolos era jurada, agora estou no palco. Vou dançar, vou saltar, vamos estar no ar, num programa de emoções e de afetos. Vou ser uma Bárbara surpreendente, cheia de energia. Mas não vou ser um boneco, vou ser eu, porque essa Bárbara existe na vida real. Sou uma mulher cheia de força. Energia não me falta (risos).

Mas é uma Bárbara diferente do habitual? Acha que os portugueses têm uma ideia errada de si?
Não, não. Não posso dizer isso. Os portugueses conhecem-me, sabem quem eu sou e têm acompanhado o meu percurso profissional na televisão.

O Facebook tem sido uma ferramenta poderosa na medida em que apresentadores e programas conseguem mobilizar espectadores. A Bárbara está à espera de quê para aderir às redes sociais e captar mais espectadores para o seu programa?
Reconheço que é um instrumento essencial para promoção, mas ainda não senti necessidade de ter Facebook. É preciso ter um tempo que eu não tenho. Ainda não aderi mesmo por questões de disponibilidade. Prefiro estar assim. Mas está lá uma página que alguém criou. Que vai dar ao perfil da Bárbara Guimarães na Wikipédia.Ui... na Wikipédia! Aquilo não está nada bem. Tem ali erros e não documenta nada. Tenho de mudar aquilo (risos)

.Por falar em conquista de espectadores, a SIC tem-no feito com as novelas. Como olha para este fenómeno?
Finalmente conseguimos fazer com que destronasse a concorrência. Nós estamos numa competição permanente, mas é uma competição saudável.

É espectadora de novelas?
Vejo este remake da Gabriela. Lembro-me de ver a original e desta estou a gostar de acompanhar. Gosto da luz, do enredo, da atriz... É uma Gabriela no novo século, muito diferente da Sónia Braga, mas gosto deste olhar mais moderno. É uma novela que está bonita. E o genérico é delicioso. Gabriela, eh [canta]."Tem de haver um serviço público de TV"

Pensou em tirar Belas Artes, mas enveredou por Relações Internacionais, curso que depois trocou pelo de jornalismo.
Passou pela informação na TVI e destacou-se no entretenimento, passando ainda pela apresentação de vários programas culturais. Foi um percurso natural ou uma busca por aquilo em que se sentia melhor?
No início foi uma procura. Queria encontrar-me. As Belas Artes foi devido à minha envolvência na infância. O meu pai é escultor e eu sempre estive muito ligada às artes e à cultura. Depois, comecei a perceber que o que mais me detinha eram livros de grande reportagem, sobre uma determinada guerra, um certo país. Tinha queda para tudo o que mostrava o que se estava a passar. Pensei que também podia dar a conhecer esses factos. Fui para Relações Internacionais para depois seguir jornalismo, porque achava melhor do que ciências da comunicação. Era mais abrangente.Tira o curso e entra na TVI.Sim, tinha três anos de curso. Foi aí que senti mesmo necessidade de procurar o outro lado do jornalismo. Tirei um curso de repórter de imagem, de realizadora, de montagem. Eu já estava a estagiar como jornalista e a fazer reportagens e precisava muito do outro lado. Depois, na SIC Notícias, é o jornalista quem monta as suas peças e todos os conhecimentos adquiridos dão hipótese de sermos self made women.

O jornalismo faz-se cada vez mais assim. E nunca pensou em passar definitivamente para trás da câmara?
Eu tinha jeito com os enquadramentos... aliás, tenho jeito. Por exemplo, adoro fazer álbuns de fotografias, divididos por temas, e o enquadramento e a narrativa desses álbuns é muito importante. Contam histórias com princípio, meio e fim, mas também histórias paralelas. Tornam-se um livro em imagens. Sim, poderia passar para trás da câmara, mas sinto-me tão bem à frente dela (risos).

Mas acaba por ir para a SIC apresentar programas que nada têm que ver com jornalismo: magazines culturais, muitos, e espaços de entretenimento. Encontra algo de cultural no entretenimento?
Muito pouca coisa. A cultura, tal como a vida política, tem o seu próprio espaço. Deveria ter. Pode estar presente no entretenimento quando se fala das suas várias vertentes, mas só isso. Agora, individualmente há cada vez menos cultura em TV. Eu comecei na TVI numa altura em que a RTP emitia o Acontece. Hoje, acontece muito pouca coisa em termos culturais em televisão. Mas, também, num país onde um conselho de ministros não tem um representante da cultura, o que é que se está à espera? O nosso secretário de Estado não vai às reuniões de conselho de ministros, não é?

Acredita que a nova RTP, a que aí vem, irá novamente ao encontro da cultura?
Como uma profissional da televisão, em que tudo o que faço vai pelo caminho da qualidade, dou total importância, e é absolutamente evidente, que tem de haver neste país um serviço público de televisão. Onde se inclui cultura, claro.

O que está a acontecer à RTP pode acabar com muita coisa, como o cinema português. O que vai ser deste sem a RTP? O que é que se está a fazer no cinema português neste momento?
Neste momento mesmo. Estão a filmar? A produzir? É preocupante. O País tem de ter um serviço público de televisão.E esse serviço pode ser concessionado a um privado?(silêncio) Um serviço público é exatamente isso: público, do Estado. Todos os países o têm pacificamente e não me lembro de na Europa um país andar a discutir a extinção de um serviço público de televisão. Não se vê. É um bem adquirido e essencial para a cultura de um país.Gostava de voltar a conduzir um magazine cultural?O meu percurso em televisão é marcado pela diferença. Quando se pensa que eu não estou num determinado programa a apresentar, eu apareço como jurada. Estou sempre a dar ao espectador uma vertente nova de mim. Esta profissão não tem rotinas. É certo que no meu caso é pensada semestralmente, mas ainda assim não tenho tido espaço nem tempo para outras coisas. Como é que é aquela música do Tony Carreira? É... ai, que eu agora já tenho obrigação de saber. É A Vida que Eu Escolhi (risos).

Então apresentar um programa semestralmente é uma escolha? Não gostava de ter uma presença mais regular em TV? Apresentar um programa diário?Como o Páginas Soltas?Por exemplo
.Sim... Podia ser. A SIC, nesta altura, precisou que eu me concentrasse neste projeto. Fico contente por ter sido convidada para o fazer, mas continuo a ter a minha outra vida, que é também estar preocupada com o que se faz em televisão. Vai fazer vinte anos que ando neste meio e preocupa-me muito em contribuir com outras coisas, que passa por fazer melhor o que me dão, por superar-me. O meu caminho é esse, o de superação, o de inventar um Páginas Soltas, um Oriente, um Terceiro Elemento... São coisas que fui inventado e através das quais a SIC, ao longo do tempo, me foi dando asas para voar. Nunca saí da SIC porque estou bem assim.

Teve oportunidade para o fazer?
Tive.

Seria capaz de voltar ao jornalismo?
O que posso dizer é que gostei muito de fazer reportagem e que mesmo atualmente, quando estou a ver noticiários ou a ler reportagens, sinto o bichinho cá dentro. "Como é que eu fazia se a reportagem fosse minha? Não punha isto. Contava a história de outra maneira". Estou sempre a questionar outros pontos de vista.

É verdade que gosta da adrenalina do direto?
É, pois! No direto tudo pode acontecer e os nossos sentidos estão todos despertos. Tem graça porque agora, quando fui jurada do Ídolos, dava por mim a a olhar para a Cláudia [Vieira] e para o João [Manzarra] e a fazer-lhes gestos...


Tentava ajudá-los?Eles não precisam de ajuda nenhuma, mas fazia-o no sentido de perceber o que eles estavam ali a viver e isso só acontece num direto. Num programa gravado se fica mal repete-se! Perde a piada. Acho que tudo tem que ver com a tal necessidade de diversidade em tudo o que faço

.A diversidade é o que a move?
Move. A vontade de experimentar e de nada ser igual ao que foi. Eu dificilmente regressaria a momentos passados. Se fizessem um remake do Chuva de Estrelas teriam de ir buscar uma miúda nova, desta nova geração cheia de gente válida. Nunca se regressa ao lugar onde já se esteve."Ainda não conquistei toda a gente (risos). Mas chego lá"Ao longo dos anos tem sido vista por olhares muito diferentes e tem sido também alvo de julgamentos muito diferentes. Lembro-me, quando apresentou uma série de programas com o maestro António Vitorino de Almeida, de muitas vozes críticas.
Porque acha que isto acontece?
Eu tenho reparado nisso. Há quem me adore e quem me odeie. Ainda não conquistei toda a gente (risos). Mas chego lá!

Não a incomoda sentir que é odiada?
Ui... há mais coisas na vida! Na altura dos Duetos Imprevistos, com o maestro, o Mário Castrim [crítico de televisão já falecido] bateu-me forte, mas eu dei-lhe a volta. Mesmo nos últimos sopros dos seus artigos super corrosivos sobre o programa e, especificamente sobre mim, há uma crítica que eu chamo a da redenção. É das coisas que mais pena tenho na vida: queria ter falado com ele e não o fiz. Eu fiquei tão revoltada com tanta coisa que ele escreveu sobre mim... Queria ter-lhe falado. Mas eu sei que ser crítico não é fácil. Espero bem que quem o faça tenha a consciência do que está a fazer.

Em televisão, a beleza de uma mulher pode desviar as atenções, digamos assim, do seu valor enquanto profissional?
(silêncio) Imagine que há uma redação [a da TVI] onde uma miúda de vinte anos, muito magra e de cabelos muito compridos, chega e, como descreveu o Artur Albarran, "com um ar de quem vai fazer alguma coisa que não está a acreditar: um casting para ser pivô do noticiário". Com descontração, a dar pouca importância e a brincar. Isto para dizer que exatamente por causa disso, da beleza, eu tive de lutar. E muito. Mas o meu lado curioso levou-me sempre a bom porto.Foi também a curiosidade que a levou a experimentar a representação, em 2000, na série juvenil Uma Aventura?Isso lembra-me o meu filho Dinis. Há um dia em que ouço "mãe, mãe, estás aqui na televisão na série que eu gosto muito". Eu nesse episódio fazia de diretora do Palácio da Pena. Usava um carrapito e óculos, tinha um ar carregado, e o meu filho ria-se e dizia-me "mãe, estás tão feia!" (risos).

Ele costuma vê-la em televisão?
Começou a ver-me com o Portugal tem Talento, no ano passado. Em época de aulas, tanto o Dinis como a Carlota vão cedo para a cama.

Não grava os programas para depois lhes mostrar?
Não porque depois nunca temos tempo. Eles fazem uma seleção completamente diferente do que querem ver em televisão do que quando nós éramos da idade deles. Nós tínhamo-nos de nos sujeitar a dois canais, RTP1 e RTP2 - e por favor não nos tirem agora nenhum deles -, eles têm cabo.
Além disso, eu sou rigorosa no sentido em que acho que eles têm de ter tempo para brincar, para estudar e para não fazer nada dentro do quarto. Não fazer nada mesmo. Pegar nos brinquedos e estar só ali.

Brinca muito com eles?
Eu sou quase campeã de Uno. Às tantas sou eu que lhes peço "vamos brincar?". Tenho umas cartas que dá para jogar na praia, na água. Ando sempre com elas atrás na minha mala. É raro abrir a carteira e não sair de lá um monstrinho, uma carta.
Quando somos mães a nossa mala deixa de ser nossa.

Ser mãe é também um regresso à infância?
Completamente. Eu voltei a jogar Lego, que adorava. Poder voltar a brincar e fazê-lo com os meus filhos é maravilhoso. Poder voltar a fazer o que fazia quando tinha a idade deles."Antigamente nada me assustava. Treta...

"Nasceu em Angola, que deixou aos quatro meses para ir viver para São João da Madeira, até aos sete anos, idade em que se mudou para Lisboa. Mudar-se para uma grande cidade como Lisboa foi complicado?Não. Não perdi nada. Quando faço a transição para Lisboa deixei a escolinha pequenina e vou para uma em Carnaxide... Espere! Para Carnaxide, veja lá (risos)! Mas foi a descoberta de uma dimensão até de maior liberdade, em que senti que tinha de observar melhor as coisas por serem muitas a acontecer. Comecei a ir ao ballet da Gulbenkian com a minha mãe, que era das coisas que mais amava. Eu juntava dinheiro para ajudar a minha mãe a comprar os bilhetes para as temporadas e acho que até à adolescência não perdi nenhuma. Isto para mostrar que numa cidade grande havia outros rituais, descobri outras coisas que também gostava. Não tinha o horizonte à vista, mas no meio dos prédios o sol também passa.Foi o pai de Rodrigo Guedes de Carvalho que ajudou a sua mãe durante o parto e que, inclusivamente, lhe deu o nome de Bárbara.Foi. Ele vivia em Angola e era amigo dos meus pais. Quando a minha mãe entrou em trabalho de parto, o meu pai estava a cumprir serviço militar e foi ele quem a levou para o hospital. Mas a parteira que lá estava não se mostrou em condições [Bárbara imita o gesto de quem está a beber] e ele acabou por levá-la para casa. A noite estava de trovoada e quando eu nasci ele disse "Valha-me Santa Bárbara". Pronto, eu fiquei Bárbara em vez de João ou de Joana, que era o que os meus pais tinham previsto.Ainda tem amigas de infância?Tenho. Uma das primeiras amigas que fiz, a Rute, foi quando vim para Lisboa. Cheguei à escola e ela, com um ar de má, perguntou-me: "Estás perdida?". Nunca mais me esqueci daquela frase. Eu respondi-lhe que não, que ia brincar às cambalhotas nos ferros, naqueles que havia nos jardins. Acabamos por entrar em competição e foi assim que a conquistei. Eu, que tenho umas pernas até ao pescoço, era boa nos ferros. E a saltar ao elástico também, toda a gente queria ficar na minha equipa.

Nas suas brincadeiras era maria-rapaz ou as suas brincadeiras eram mesmo de menina?
Era dois em um. Sempre gostei de arriscar, já nessa altura gostava. Por isso é que caia muito. Bem... e também porque era muito comprida (gargalhada). Estava sempre esfolada nos joelhos até que a minha mãe decidiu que já não me vestia saias ou vestidos. Começou a fazer aqueles fatos de macaco dos corredores de automóveis e a vestir-mos. Eu detestava. E quando tive filhos disse "mãe, nunca lhes vou vestir um fato desses". E não é que agora os visto? Dá muito jeito!

As mulheres só percebem as mães depois de serem mães?S
ó o sabemos depois. Até lá podemos debitar o que quisermos! Sabe que é curioso, estou agora a lembrar-me, que o número do meu pé aumenta cada vez que tenho filhos. Calçava 37 até ter o Dinis, depois passei a calçar 38 e agora, depois da Carlota, calço 39. Acabaram-se os sapatos. As minhas amigas estão tão contentes (risos). Mas vai parar aqui, recuso-me a chegar aos 40 (gargalhada). Só na idade!

Assusta-a a velhice?Assusta. Eu fui sempre criada por muitas mulheres e, de alguma forma, foram sempre elas que foram sobrevivendo. Os homens da minha família foram partindo. Nós, as mulheres da minha família, temos receio da incapacidade física e mental, de perder a memória das coisas. É uma perspetiva que me perturba de uma forma que parece que fico sem chão. É pensar que não se pode fazer nada, a não ser cuidar das pessoas a quem vai chegando esse momento. Antigamente nada me assustava. Treta...

E a morte também a atormenta assim?
É injusta. Chega, leva-nos, vai-se. É muito injusta.

Ter sido educada por mulheres fez despertar em si uma paixão desmedida pelo seu pai?
Não tem a ver com isso. Tem a ver com a loucura, com o lado genuíno e generoso dele. Com o lado risonho. O meu pai nunca falhou uma festa de anos minha desde os meus 16 anos. Nunca. É o homem que está sempre nas minhas festas. Talvez seja pela distância, pelo facto de eu ter vindo para Lisboa com a minha mãe e de ele ter ficado em São João da Madeira. A minha mãe, ainda hoje, é muito mais presente.

A família é muito importante?
A minha mãe, o meu pai e a minha avó são aquele trio fundamental. Para mim e para os meus filhos. Eles agarram-se às barbas do avô, chamam de Bia à bisavó... Lembro-me de estar a fazer marionetas com a Carlota, daquelas que se colocam nos dedos, e uma delas era a avozinha, com tinha o cabelo branco. E a Carlota começou a apontar para ela e a gritar "Bia, quero a Bia... Ó Bia, onde tás?", com umas saudades loucas da bisavó. Criar estes laços de família é muito importante para a educação deles, mas não é algo forçado. Faz parte de mim e eu gostava que fizesse parte deles também.

Foi isso que a fez, em 2005, estar ao lado de Manuel Maria Carrilho quando concorreu à presidência da Câmara Municipal de Lisboa?
Nesta altura chegou a mostrar o seu filho em público, passando a imagem de uma família feliz. Faz tudo pelo seu marido?
Tudo. Nem voltava atrás. Veja a história de todos os governantes. A família deve ser a primeira a estar presente. É fundamental. Ser político, ou estar na política, é uma entrega muito grande. A pessoa que vai para um cargo em que governa para os outros tem de dar a sua vida a isso. Lembro-me, isso revelo, do dia em que se pôs a hipótese da candidatura. Se eu metesse um travão, se eu dissesse "nem pensar", ele também tinha travado. Foi uma escolha em família.

Nunca penso que por estar ao lado do seu marido num momento político a levaria a perder algum público televisivo?
Uma das riquezas de se gostar do que fazemos profissionalmente é estarmos bem connosco. Quando eu apareço ao lado dele é coerente para com a minha pessoa. Há limites para as coisas, mas também há aquilo que nós somos e as pessoas conhecem-nos pelos nossos atos. Foi o caso, foi assim que se viveu esse período e, mais uma vez, não voltava atrás.

Ambos são figuras conhecidas, cada um na sua área. Acha que o Dinis, com oito anos, e a Carlota, com quase dois, já sentem as consequências da exposição pública dos pais?
Nós somos uma família muito unida e não gostamos de partilhar a nossa intimidade. Partilhamos o que achamos que faz sentido numa determinada altura. Preservar faz parte do educar. Preservar e dar-lhes aquilo que é a realidade. O bom e o mau existem no mundo.

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